Visitar a quinta da Regaleira é partir para uma viagem espantosa a um mundo de imaginação, criado no meio da natureza.
Com a concepção de Carvalho Monteiro e a arte de Luigi Mannini, ambos realizaram um dos mais incríveis projectos que alguma vez foram criados.
O espaço da quinta tem de ser visto como um todo único, que, num enorme jardim integra um palácio, capela, outras construções, lagos, caminhos, grutas, túneis, poços, torres, esculturas e rochas lá colocados.
Esse jardim foi orientado pela fantasia, e aí foram concretizadas diversas interpretações simbólicas das tradições e mitos que alimentaram a imaginação do homem ao longo da história, usando características arquitectónicas neogóticas e românticas. É um lugar embrenhado em mistério e esoterismo, onde sobressai o estilo neomanuelino nas construções e, os espaços verdes típicos da Renascença nos jardins e bosques, desenhados com formas estilizadas, mas sempre com alguma intencionalidade.
Apesar da diversidade de trajectos do Jardim da Quinta da Regaleira, todos conduzem a um monte de pedras erguidas cheias de musgo. Entre elas está uma que roda, impulsionada por um mecanismo oculto. Ela vai permitir-nos a entrada num outro mundo.
É um magnífico poço, conhecido como “Poço Iniciático” uma espécie de torre invertida que submerge nas profundezas da terra. De quinze em quinze degraus vão-se descendo os nove patamares desta galeria em espiral, sustentada por colunas.
Os níveis deste poço são nove e esse número não é um acaso. O nove é um algarismo simbólico, que em muitas línguas europeias apresenta semelhanças com a palavra novo (em português, nove e novo, espanhol, nueve e nuevo, francês, neuf e neuve, inglês, nine e new, alemão, neun e neu. Nove associa-se, assim, à transição do velho para o novo. Foram nove os primeiros templários, os cavaleiros que fundaram a Ordem do Templo e os que estão na origem da Ordem portuguesa de Cristo. Deméter percorreu o mundo em nove dias em demanda da filha Perséfone. Na mitologia grega, as musas eram as nove filhas de Mnemonize e Zeus. São precisos nove meses para o ser humano nascer. Por ser o último dos algarismos singulares, o nove anuncia em simultâneo, e nessa sequência, o fim e o princípio, o velho e o novo, a morte e o renascer, o fim de um ciclo e o começo de outro.
Lá no fundo sobressai uma “cruz templária”, aliada a uma estrela de oito pontas. Era precisamente aqui neste “Poço iniciático”, que se fazia o ritual relacionado com “esoterismo”
uma vez que descer ao fundo do poço, era simbolicamente chegar ao “inferno”, ou “mundo das trevas” …
A descida do poço significa, também, uma descida dentro de si próprio, em busca do mais profundo da própria alma.
Há ainda o poço imperfeito, o qual, com apenas 8 metros e 90 centímetros de fundo, tem uma estrutura central que é o poço em si próprio, formada por pedras toscas intercaladas, por trás das quais se desenrola a escada em caracol que leva ao seu fundo. Seguindo-a chega-se a um túnel e ao trajecto subterrâneo que este possibilita.
O troço superior de túneis da Regaleira não constitui, directamente, um labirinto, mas tem com este e com a sua carga simbólica, uma relação, pois os seus caminhos subterrâneos podem levar a diferentes direcções.
Os túneis da Regaleira continuam a constituir o quadro distintivo essencial da quinta e, em forte medida, o seu maior mistério ou, pelo menos, a fonte principal de controvérsia e debate.
São uma figuração da viagem das trevas à luz, como um caminho que conduz da morte simbólica do profano e à ressurreição do iniciado, como um homem novo.
Além dos túneis, estão sempre presentes os lagos que expressam os olhos da Terra, pelos quais os habitantes do mundo subterrâneo podem ver o que existe no mundo exterior. Podem ainda simbolizar a referência às águas do génesis e ao nascimento do Homem através das águas do ventre materno.
A água, que aparece por toda a Quinta, pode também ser vista como elemento purificador que traria a “limpeza espiritual” à vida.
Assim depois, de atravessar as trevas das grutas labirínticas, até chegar à luz, esta vê-se reflectida em lagos surpreendentes.
Saindo dos labirintos subterrâneos da Regaleira, ao avançar pelos seus caminhos e jardins, pode-se passar pelo Patamar dos Deuses, Portal dos Guardiães, Terraço dos Mundos Celestes, Torre da Regaleira, loggia dos Pisões, Gruta do Labirinto e respectivo lago, Grutas do Oriente, do Aquário, da Virgem e de Leda, pela Fonte dos Íbis, Capela, Terraço das Quimeras, Fonte da Abundância, Lago da Cascata e Palácio. Em todos esses lugares pode sentir-se que nada foi deixado ao acaso e estão presentes os símbolos de diversas e variadas convicções.
algumas das principais divindades gregas e romanas. Estas, assim como a estátua do leão, que representa o sol e segundo a alquimia o ouro, podem estar relacionadas com o culto maçónico.
Num extremo do terreno no plano inferior à magnífica estufa da quinta, encontra-se a capela da Regaleira. A capela da Regaleira é um templo Cristão, caracterizado pelo culto mariano, onde perpassa uma outra visão do mundo, para além da concepção estritamente religiosa.
O pequeno templo, profusamente decorado, contém múltiplos elementos simbólicos que motivam amplos debates.
Num patamar próximo ergue-se a elegante Torre da Regaleira, onde a vista era deslumbrante, isto é um autêntico regalo. Segundo alguns é daí que deriva o nome da Quinta. A Torre da Regaleira foi construída para dar, a quem a sobe, a ilusão de se encontrar no eixo do mundo.
O Palácio da Regaleira é o edifício principal e o nome mais comum da Quinta da Regaleira. O palácio está situado na encosta da serra e a escassa distância do Centro Histórico de Sintra.
O edifício principal da quinta é marcado pela presença de uma torre octogonal, símbolo das construções da Ordem do Templo. Toda a exuberante decoração esteve a cargo do escultor José da Fonseca.
Tudo foi organizado neste espaço, conscientemente, para invocar o tema sagrado através de diversos símbolos da Mitologia, Alquimia, Maçonaria, Templários, Cristianismo e metafísica. É um lugar, cujo conjunto de construções perfazem um todo idílico, onde a arte e cultura se unem ao conhecimento oculto e enigmático.
É um espaço fascinante, pelo apelo à descoberta numa sequência de lugares e cenários imbuídos de magia, mística e mistério.
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