domingo, 26 de fevereiro de 2012

Arquitectura Historicista e Ecléctica





A arte do Romantismo é formada por um feixe heterogéneo de estilos, como uma reacção ao equilíbrio, impessoalidade, racionalidade e sobriedade do classicismo. 


O Romantismo afastou-se das frias regras da arquitectura neoclássica e dos princípios da ordem, proporção, simetria e harmonia que a caracterizam e foi influenciado pelos valores do sentimento. Deu preferência aos aspectos mais de acordo com a mentalidade romântica, como a irregularidade da estrutura espacial e volumétrica, os efeitos de luz, o movimento dos planos, o colorido da decoração, enfim, características que provocassem o encantamento, estimulassem a imaginação, convidassem ao sonho, evocando realidades diferentes, distantes ou imaginárias. 

Burg Hohenzollern, Baden-Württemberg, Deutschland - 1819.O edifício é um típico representante do neogótico.  

Assim na época romântica houve a tendência para regressar aos estilos do passado, através da arquitectura historicista e ecléctica. 

A arquitectura historicista (ou revivalista) é o nome dado a um conjunto de estilos arquitectónicos que procurou recuperar e recriar a arquitectura dos tempos passados. Na arquitectura europeia a tendência revivalista surgiu no século XVIII, atingiu o seu apogeu no século XIX e prolongou-se até meados do século XX. 

O romantismo literário evocava o espírito da idade média, despertando o interesse pela arquitectura gótica. 
Casas do parlamento 1836/68 - Charles Barry. Londres 



 
Parlamento de Budapeste em estilo Neogótico 
 
 
Edifício da câmara de Stekene, Bélgica,em estilo neogótico 

O restauro viveu um período de intensa actividade, e construíram-se em estilo neogótico, não só igrejas como diversos edifícios civis, entre os quais estações de caminho de ferro.

 
Igreja Votiva em Viena (Áustria) 


 
Rijksmuseum (Amesterdão), 1877 (um exemplo de arquitectura neogótica)

O medievalismo da época romântica não constituiu só uma reacção contra a rigidez da arte neoclássica. Uma das significações mais profundas é a do protesto dos povos do Norte, em especial, Inglaterra e Alemanha, contra o domínio da arte mediterrânica e todos os estilos desenvolvidos a partir da antiguidade clássica.

 
Munich - Marienplatz 1831–1839 

 
Neogótico: Town Hall, em Manchester.
Projeto: Alfred Waterhouse, 1868. 

Mas além do priincipal estilo historicista, o neogótico, surgiram muitos outros: o neo-românico, o neo-renascentista, o neobizantino, o neobarroco, o neo-islâmico e até o gosto pelas culturas exóticas orientais.

   
Castelo de Neuschwanstein, um imponente palácio em estilo neo-românico

   
   
J. L. Charles Garnier - Opéra, Paris, France, 1861–1874. Estilo neobarroco

Também se apontam outras razões para a implementação e difusão do historicismo, como a incapacidade de desenvolver uma arquitectura original e a necessidade que sentiam as novas instituições e as novas classes dominantes de enobrecer-se com o prestígio das formas arquitectónicas do passado.
 
Museu de História Natural de Londres em estilo neogótico , com aspectos neo-românicos - 1880 - arquitecto Alfred Waterhouse 

O movimento revivalista andou associado à arquitectura ecléctica, que incorporava vários estilos. O ecletismo arquitectónico caracterizou-se por misturar estilos antigos, sem a rigorosidade da arquitectura revivalista propriamente dita, que era mais fiel a um só estilo. Apesar de empregarem formas do passado, tanto a arquitectura historicista como a eclética usaram técnicas modernas como as estruturas de ferro e, depois de cimento. O recurso ao passado é assumido nos aspectos decorativos.

O ecletismo arquitectónico busca o exótico e exaltação do passado, recorrendo aos estilos que achar mais adequados para esse fim. 
 

JOHN NASH, Royal Pavilion, Brighton, England, 1815–1818. Este capricho oriental de Nash é uma fusão dos estilos chinês, hindu, islâmico e bizantino. 

Muitas vezes os estilos historicistas integraram-se em movimentos de valorização e concepção da história nacional, adoptando um carácter nacionalista, com aconteceu em Portugal, tema que será tratado na próxima mensagem.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Romantismo em Portugal




Em Portugal o processo de instauração do romantismo foi demorado e confuso. Enquanto o romantismo francês tinha atingido o pleno desenvolvimento e o realismo já começava a tomar forma, o romantismo português procurava ainda afirmar-se.

A implantação do romantismo em Portugal ocorreu num contexto socio-político complexo. São os anos posteriores às invasões francesas, o refúgio da corte portuguesa no Brasil e é também o tempo em que o desejo de independência dessa colónia ganha força. Na metrópole germinavam os ideais liberais.



    

Caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel a brigar pela coroa portuguesa, por Honoré Daumier1833
Travam-se as lutas civis entre miguelistas e liberais, o que levou muitos partidários de D. Pedro ao exílio em Inglaterra e França. Dois desses partidários eram os jovens escritores Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Foi longe da pátria que estes autores conceberam a ideia de criar uma literatura nova, de carácter nacional e popular.   

Em 1825 Garrett publicou o poema Camões que passa a ser considerado o ponto de partida para o romantismo português, na literatura.
Garrett - Domingos Sequeira
Em Portugal, o romantismo, tal como na Europa, manifestou-se também na pintura e na arquitectura. A evolução, na pintura, do neoclassicismo para o romantismo foi lenta e tormentosa, só tardiamente ganhou expressão entre nós.
Domingos Sequeira, inicia a transição do Neoclassicismo para o Romantismo, em sintonia com o que de mais moderno se fazia no continente, começando relativamente cedo o percurso romântico, simbolizado por alguns retratos e pela série sobre a vida de Cristo, realizada entre 1827 e 1832, em que demonstra um domínio magistral da luz.

Os restantes artistas, em consequência da instabilidade vigente, só mais tarde conseguem aderir à nova estética que surgiu como resultado do amor que tinham à natureza. Claramente afastada dos princípios académicos, desenvolve uma sensibilidade, baseada na pintura de costumes populares e paisagens, quase bucólica, que de certo modo se aproxima do futuro Naturalismo.

Vários pintores se destacaram, mas Auguste Roquemont foi o primeiro a fixar na tela, cenas de costumes populares. Tomás da Anunciação, João Cristino da Silva, Leonel Marques Pereira, Luís de Meneses, Leonel Marques Pereira, Miguel Ângelo Lupi e Metrass são outros nomes importantes da pintura romântica. Este último, Metrass, traduz nos seus quadros uma nova situação sentimental, com um dramatismo ao mesmo tempo empolgante e mórbido. O melhor exemplo desse gosto é o célebre Só Deus, considerado por alguns a mais poderosa imagem do romantismo português.

A pintura “romântica” portuguesa, não tem o pathos romântico de outras, assim como a temática mística, poética e de ruínas está ausente. É neste argumento que se funda a opinião de alguns autores, que olham para este ciclo como um pré-naturalismo.


Auguste Roquemont (1804 – 1852)


Auto Retrato com 19 anos - MN Soares dos Reis ou MNSR
Roquemont é conhecido pelos excelentes retratos que executava e alguns quadros de costumes. Vai marcar profundamente a primeira geração de pintores românticos. 

Retrato de Camilo de Macedo - M N Arte Contemporânea  ou Museu do Chiado
Estes foram influenciados pelo realismo, com que Roquemont tratava os seus retratos e, pela grande novidades introduzida na pintura portuguesa, os quadros de paisagem e de costumes – um dos temas preferidos do Romantismo 

Chafariz de Guimarães  - MNSR


Tomás da Anunciação (1818 – 1879)


Foi praticante de desenho no Museu de História Natural, onde a sua vocação como paisagista e animalista se formou. 



O Sendeiro  - 1856, MNAC 




O vitelo - 1873 - Museu do Chiado
Quando a Academia de Belas-Artes abriu, em 1836, Anunciação, então com 19 anos, foi dos primeiros a matricular-se acabou por se dedicar à pintura de animais. 


João Cristino da Silva (1829 -1877) - 


Auto-retrato - 1854 - MNAC 
Artista ligado ao Romantismo, ficou conhecido como um pintor de paisagem. Foi autor de Cinco Artistas em Sintra, terra do romantismo de D. Fernando e do seu Palácio da Pena. Com este quadro de 1855 alcançou grande sucesso. A obra é uma obra emblemática do Romantismo português. 

Cinco Artistas em Sintra - 1855 - MNAC 
Representa a primeira geração formada na Academia de Belas Artes de Lisboa (criada em 1836), pintando ao ar livre e a ensinar o povo, demonstrando um programa simbólico muito significativo, próprio do novo regime político. Tomás da Anunciação, João Cristino da Silva, José Rodrigues, Francisco Metrass e Vitor Bastos (o único escultor do grupo de pintores) reivindicam assim a vontade de pintar ao ar livre, criticando deste modo a formação neoclássica conservadora. 


Detalhe com o Palácio da Pena de Cinco Artistas em Sintra - 1855 - MNAC 
A obra contribuiu também para a identificação de Sintra como paisagem romântica.


Miguel Ângelo Lupi – (1826-1883) – 


Começou os seus estudos na Academia de Belas Artes que abandonou pouco depois. Lupi continuou a pintar, recebendo em 1860 uma encomenda que lhe trouxe o êxito: um retrato de D. Pedro V. Cultivou a pintura de História, mas foi no retrato que mais se destacou. Partilhou o gosto românticos de pintar o exótico e popular.

Camponesa -1875 - Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves ou CMAG



Aguadeira de Coimbra - 1879 - MNAC


Os pretos de Serpa Pinto; Os dois escravos; A preta Mariana e o Preto Catraio - 1876 - MNAC
Os seus retratos demonstram penetração psicológica pois captam a interioridade e intimidade dos modelos.



Retrato da Marquesa de Belas, 1874 - MNAC - Museu do Chiado 


Retrato de D. Maria das Dores Martins - Mãe do dr. Sousa Martins – 1878 - MNAC


Retrato do poeta Raimundo Bulhão Pato   - 1882 - MNAC 


Francisco Augusto Metrass – (1825 – 1861) - 

Auto retrato um ano antes de falecer - 1860
Em 1836 entrou para a Academia de Belas Artes de Lisboa, e em 1844 partiu para Paris e Roma. No regresso a Lisboa realizou uma exposição. Não havendo qualquer reacção do público ou da crítica, Metrass regressou a Paris e foi aí que, a partir de 1850, o seu talento começou a ser reconhecido, destacando-se, na pintura histórica. 

Inês de Castro pressentindo os assassinos – 1855 - MNAC
O ano de 1856 trouxe-lhe a consagração com um dos seus quadros mais célebres ”Só Deus” que retrata uma cena do dilúvio, onde uma mulher, tendo nos braços uma criança, é arrastada pelas águas. 

Só Deus - 1856 - MNAC
No apogeu do seu talento, e depois de ter pintado uma grande obra histórica intitulada Camões lendo os Lusíadas, a tuberculose não o deixou ir mas longe: em 1861, aos 36 anos, morreu na ilha da Madeira, deixando a sua obra incompleta».


Camões na Gruta de MacauMuseu do Chiado, Lisboa

A imagem de Camões é o seu auto-retrato

Luís de Meneses ou Visconde de Meneses - (1820-1878) - 

Auto-retrato - Visconde de Meneses - MNAC 


Em 1834 veio para Lisboa, onde frequentaria a Academia de Belas Artes de Lisboa. 
Recomendado pelo Rei D. Fernando, amigo da família, e financiado por seu pai, partiu para Itália em 1844, com Francisco Metrass.
Quando regressou optou pela pintura de retratos, revelando grande sensibilidade e talento.


Retrato da Viscondessa de Menezes, D. Carlota -1862 - MNAC 


Leonel Marques Pereira – (1828- 1892)
Concluiu o curso da Academia de Belas Artes e exerceu na Direcção Geral de Engenharia Militar o cargo de desenhador. Praticou a pintura de costumes, fixando cenas tradicionais e pitorescas em pequenas telas executadas com todo o pormenor e a preocupação documental de um fotógrafo. 

Bailarico - Museu do Chiado - MNAC

Com pincelada curta e uma paleta garrida os seus quadros satisfizeram o gosto do público. Uma das raras excepções no campo da pintura em que aparece representado o comboio é seu quadro de 1872, intitulado “Os Reis D. Luiz e D. Maria Pia”, existente no Palácio da Ajuda. 


Os Reis D. Luiz e D. Maria Pia – 1872 - Palácio Nacional da Ajuda


Francisco José Resende - 1825-1893

Auto-retrato - 1860 - Museu Nacional de Soares dos Reis



Foi um pintor e escultor portuense, discípulo de Roquemont e muito influenciado por ele. Em 1854, esteve em Paris, pensionado por D. Fernando, então regente. Nos seus quadros, tratou com frequência tipos e costumes portugueses e fez numerosos retratos. 



Barco com pescadores de Matosinhos aportando a uma praia da foz do rio Leça – 1887 – P. Nacional da Ajuda


Detalhe de Barco com pescadores de Matosinhos aportando a uma praia da foz do rio Leça – 1887 – P. Nacional da Ajuda 

Detalhe de Barco com pescadores de Matosinhos aportando a uma praia da foz do rio Leça – 1887 – P. Nacional da Ajuda



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Francisco José de Goya



Goya por Vicente López (1826). 

Francisco José de Goya y Lucientes, famoso pintor espanhol, nasceu em Fuentedetodos, Aragão, Espanha, em 30 de Março de 1746 e morreu em Bordéus, França, em 16 de Abril de 1828.
Goya é um pintor que percorre a pintura espanhola e europeia desde o rococó do final do século xviii até ao romantismo. A sua produção, foi de uma extraordinária abundância, originalidade e variedade. Pintor de execução rápida, solucionou as composições de maneira concisa.
Esquematicamente, pode dizer-se que Goya, partindo do rococó, entrega-se à cor com fúria e liberdade e vai sucessivamente descobrindo a beleza dos cinzentos e dos pretos, sem com isso renunciar às cores intensas.
Estudando em Madrid e em Itália, a sua mais significativa obra de juventude consiste num conjunto de mais de sessenta cartões para tapeçarias, representando, essencialmente, cenas populares madrilenas.  

                         
                                Partida de Caça - 1775

                    
                       Guarda-Sol - 1777


                          
                                                       Vindima - 1787

                             
                                      Tempestade de Neve - 1787

                                              
                                              Operário Ferido - 1787

Em 1786 tornou-se pintor do rei Carlos III. Nesta época pinta os primeiros retratos de personagens da corte espanhola com inspiração neoclássica. Tal como os retratistas ingleses, é um mestre nas representações infantis

                                           
                                             Carlos III com traje de caça - 1786

                                               
                                                    Manuel Osório Zuniga - 1787

                                
                                              1788 – A família dos duques de Osuna

Goya fixa nos retratos a sua excepcional penetração psicológica, bem como a sua destreza técnica e o seu impiedoso realismo. Pinta reis, aristocratas, governantes, escritores, actores e toureiros e alguns auto-retratos.
                                         
                                                             Carlos IV - 1789
                                              
                                              Maria Luísa de Parma - 1789

Em 1792, viajando pelo Sul de Espanha, adoece gravemente, só se restabelecendo parcialmente, em 1793, com surdez.
Dessa viagem pelo sul de Espanha nasce a amizade com a duquesa de Alba, que retratará, assim como ao seu marido.

            
                         Duquesa de Alba - 1795

           
                                    Duquesa de Alba - 1797

Em 1796 e 1797 Goya visitará em estadias prolongadas a duquesa de Alba, que entretanto enviuvara, nas suas propriedades da Andaluzia.
Pinta também a Maja vestida e a Maja desnuda, que são duas obras-primas de tema e tratamento insólitos na pintura da época.


Maja Nua - 1797


Maja Vestida - 1800

Mas a doença marcou-o profundamente e deixa de ver, como acontecera com os cartões, o lado agradável da humanidade, fixando-se nos seus defeitos, e aspectos grotescos. Neste sentido, produz Os Caprichos, série de gravuras que revelam a faceta de crítica social do artista. Quando as termina, em Fevereiro de 1799, coloca-as à venda numa loja por baixo da sua casa em Madrid. Mas retira-as de venda, possivelmente por se reconhecerem referências a pessoas conhecidas.
                                   
                                              Até ao seu Avô

                                     
                                 O sonho da Razão produz monstros


Em 1798, começa a sua segunda época de retratos de figuras públicas, pintando o seu famoso retrato da família real espanhola (1800-1801). Os seus retratos deste período mostram, a sua fascinação pelas mulheres e o negro passa a fazer parte do fundo dos seus retratos.


                                       Família de Carlos IV - 1800

                            
                                Condessa de Chinchón - 1798

                             
                                        Senhora Sabasa Garcia - 1806

                               
                                   Actriz Antonia Zarate - 1811

Quando se verifica a invasão napoleónica, Goya junta-se aos afrancesados. No entanto as guerras napoleónicas vieram e os horrores sofridos, pelos espanhóis deixaram um Goya amargo, transformando a sua arte num ataque contra a conduta insana dos seres humanos, passando a retratar a falta de sentido do sofrimento humano. Entre os anos de 1810 e 1814, produziu sua famosa série de gravuras "Los Desastres de Guerra".

                         



                        
Em 1814, com a restauração da monarquia entrega os testemunhos de que não era afecto ao governo intruso, os quadros «O Dois de Maio ou a Carga dos Mamelucos» e os «Fuzilamentos da Moncloa», que perpetuam a resistência e a luta do povo espanhol contra Napoleão Bonaparte e evidenciam Goya como precursor do realismo.

                          Dois de Maio - 1814 - Carga dos Mamelucos


     Três de Maio - 1814 - Fuzilamentos de Moncloa

Com Fernando VII, Goya continua a trabalhar na corte, mas sente-se preterido e sozinho com a maior parte dos seus amigos mortos ou presos. Pinta então a série de pinturas negras nas paredes da sua casa na quinta del Sordo, assim como as gravuras Os Disparates, em que cultiva magistralmente a pintura da imaginação, demonstrando os aspectos grotescos, fantásticos e monstruosos da natureza humana.

                       
                                Luta de Garotos - 1820-1823

                          
                                 Velhos comendo sopa - 1820 -1823


                                    Aquelarre - 1820-1823


                                 Aquelarre (detalhe) - 1820-1823

                                  
                                                        Maneira de Voar 


                                    
                                                              Cavalo Raptor

Quando, em 1823, se instala a monarquia absolutista e opressiva do final do reinado de Fernando VII, com o reacender das perseguições, parte com muitos outros liberais espanhóis para França, instalando-se em Bordéus. É deste período final A Leiteira de Bordéus e outras obras, cujo cromatismo e técnica de pincel antecipam o impressionismo. Ainda consegue ser inovador, apesar dos seus 81 anos!


                                 Leiteira de Bordéus - 1825

Na obra de Goya detectam-se impulsos e maneiras de executar que vão posteriormente constituir princípios orientadores de diversos desenvolvimentos importantes da história da pintura nos séculos xix e xx. 
Assim, na exaltação da cor, nos processos narrativos, existe já o germe do romantismo. Pelo impiedoso naturalismo, pela crítica aguda, é plenamente um pintor realista. Pela técnica pictórica dos seus últimos anos, em que se serve da justaposição de pinceladas de cores puras para formar novas cores e delimitar as massas, os impressionistas reconhecem-no como um precursor. A deformação da realidade, tão significativa nas suas gravuras, é nitidamente expressionista. E tem em comum com os surrealistas as visões fantásticas e oníricas das pinturas negras e que povoam a sua excepcional obra gráfica.