sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quinta da Regaleira – Um Mundo Fantástico




Visitar a quinta da Regaleira é partir para uma viagem espantosa a um mundo de imaginação, criado no meio da natureza. 


Com a concepção de Carvalho Monteiro e a arte de Luigi Mannini, ambos realizaram um dos mais incríveis projectos que alguma vez foram criados. 


 
O espaço da quinta tem de ser visto como um todo único, que, num enorme jardim integra um palácio, capela, outras construções, lagos, caminhos, grutas, túneis, poços, torres, esculturas e rochas lá colocados. 

Esse jardim foi orientado pela fantasia, e aí foram concretizadas diversas interpretações simbólicas das tradições e mitos que alimentaram a imaginação do homem ao longo da história, usando características arquitectónicas neogóticas e românticas. É um lugar embrenhado em mistério e esoterismo, onde sobressai o estilo neomanuelino nas construções e, os espaços verdes típicos da Renascença nos jardins e bosques, desenhados com formas estilizadas, mas sempre com alguma intencionalidade. 

Apesar da diversidade de trajectos do Jardim da Quinta da Regaleira, todos conduzem a um monte de pedras erguidas cheias de musgo. Entre elas está uma que roda, impulsionada por um mecanismo oculto. Ela vai permitir-nos a entrada num outro mundo. 

 




É um magnífico poço, conhecido como “Poço Iniciático” uma espécie de torre invertida que submerge nas profundezas da terra. De quinze em quinze degraus vão-se descendo os nove patamares desta galeria em espiral, sustentada por colunas. 

Os níveis deste poço são nove e esse número não é um acaso. O nove é um algarismo simbólico, que em muitas línguas europeias apresenta semelhanças com a palavra novo (em português, nove e novo, espanhol, nueve e nuevo, francês, neuf e neuve, inglês, nine e new, alemão, neun e neu. Nove associa-se, assim, à transição do velho para o novo. Foram nove os primeiros templários, os cavaleiros que fundaram a Ordem do Templo e os que estão na origem da Ordem portuguesa de Cristo. Deméter percorreu o mundo em nove dias em demanda da filha Perséfone. Na mitologia grega, as musas eram as nove filhas de Mnemonize e Zeus. São precisos nove meses para o ser humano nascer. Por ser o último dos algarismos singulares, o nove anuncia em simultâneo, e nessa sequência, o fim e o princípio, o velho e o novo, a morte e o renascer, o fim de um ciclo e o começo de outro. 

Lá no fundo sobressai uma “cruz templária”, aliada a uma estrela de oito pontas. Era precisamente aqui neste “Poço iniciático”, que se fazia o ritual relacionado com “esoterismo”
uma vez que descer ao fundo do poço, era simbolicamente chegar ao “inferno”, ou “mundo das trevas” … 

A descida do poço significa, também, uma descida dentro de si próprio, em busca do mais profundo da própria alma. 







Há ainda o poço imperfeito, o qual, com apenas 8 metros e 90 centímetros de fundo, tem uma estrutura central que é o poço em si próprio, formada por pedras toscas intercaladas, por trás das quais se desenrola a escada em caracol que leva ao seu fundo. Seguindo-a chega-se a um túnel e ao trajecto subterrâneo que este possibilita.




O troço superior de túneis da Regaleira não constitui, directamente, um labirinto, mas tem com este e com a sua carga simbólica, uma relação, pois os seus caminhos subterrâneos podem levar a diferentes direcções.
Os túneis da Regaleira continuam a constituir o quadro distintivo essencial da quinta e, em forte medida, o seu maior mistério ou, pelo menos, a fonte principal de controvérsia e debate.  



São uma figuração da viagem das trevas à luz, como um caminho que conduz da morte simbólica do profano e à ressurreição do iniciado, como um homem novo.
Além dos túneis, estão sempre presentes os lagos que expressam os olhos da Terra, pelos quais os habitantes do mundo subterrâneo podem ver o que existe no mundo exterior. Podem ainda simbolizar a referência às águas do génesis e ao nascimento do Homem através das águas do ventre materno. 




A água, que aparece por toda a Quinta, pode também ser vista como elemento purificador que traria a “limpeza espiritual” à vida. 
Assim depois, de atravessar as trevas das grutas labirínticas, até chegar à luz, esta vê-se reflectida em lagos surpreendentes. 







Saindo dos labirintos subterrâneos da Regaleira, ao avançar pelos seus caminhos e jardins, pode-se passar pelo Patamar dos Deuses, Portal dos Guardiães, Terraço dos Mundos Celestes, Torre da Regaleira, loggia dos Pisões, Gruta do Labirinto e respectivo lago, Grutas do Oriente, do Aquário, da Virgem e de Leda, pela Fonte dos Íbis, Capela, Terraço das Quimeras, Fonte da Abundância, Lago da Cascata e Palácio. Em todos esses lugares pode sentir-se que nada foi deixado ao acaso e estão presentes os símbolos de diversas e variadas convicções. 





O Patamar dos Deuses é uma bonita alameda ladeada por estátuas que representam 
algumas das principais divindades gregas e romanas. Estas, assim como a estátua do leão, que representa o sol e segundo a alquimia o ouro, podem estar relacionadas com o culto maçónico. 


Num extremo do terreno no plano inferior à magnífica estufa da quinta, encontra-se a capela da Regaleira. A capela da Regaleira é um templo Cristão, caracterizado pelo culto mariano, onde perpassa uma outra visão do mundo, para além da concepção estritamente religiosa.
O pequeno templo, profusamente decorado, contém múltiplos elementos simbólicos que motivam amplos debates.





Num patamar próximo ergue-se a elegante Torre da Regaleira, onde a vista era deslumbrante, isto é um autêntico regalo. Segundo alguns é daí que deriva o nome da Quinta. A Torre da Regaleira foi construída para dar, a quem a sobe, a ilusão de se encontrar no eixo do mundo.
 





O Palácio da Regaleira é o edifício principal e o nome mais comum da Quinta da Regaleira. O palácio está situado na encosta da serra e a escassa distância do Centro Histórico de Sintra.
O edifício principal da quinta é marcado pela presença de uma torre octogonal, símbolo das construções da Ordem do Templo. Toda a exuberante decoração esteve a cargo do escultor José da Fonseca. 










Tudo foi organizado neste espaço, conscientemente, para invocar o tema sagrado através de diversos símbolos da Mitologia, Alquimia, Maçonaria, Templários, Cristianismo e metafísica. É um lugar, cujo conjunto de construções perfazem um todo idílico, onde a arte e cultura se unem ao conhecimento oculto e enigmático.





É um espaço fascinante, pelo apelo à descoberta numa sequência de lugares e cenários imbuídos de magia, mística e mistério.


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sexta-feira, 23 de março de 2012

Palácio e Parque de Monserrate


A serra de Sintra sempre empolgou as almas românticas, Garrett, em 1825, escrevia:
"...Oh grutas frias / oh gemedouras fontes, oh suspiros / De namoradas selvas, brandas veigas, / verdes outeiros, gigantescas serras."
O palácio Nacional da Pena não é o único palácio romântico de Sintra…

A Lenda de Monserrate, diz que em tempos, um cavaleiro cristão foi morto pelo alcaide mouro de Sintra num duelo. Quando D. Afonso Henriques conquistou Sintra, mandou erigir uma capela, no local do túmulo do cavaleiro.

Em 1540, a capela que estava em ruínas, foi mandada reconstruir em honra de Nossa Senhora de Monserrate, que acabou por dar o nome à quinta, onde se encontrava.

A Quinta de Monserrate, em 1790, foi alugada ao inglês Gerard De Visme, um abastado importador de madeira do Brasil. Tendo-se apaixonado por Sintra, decide construir naquela Quinta, um palácio em estilo neogótico, como ainda reconstruir a capela, que depois do terramoto de 1755, se encontrava em ruínas.

Em 1794, De Visme parte para Inglaterra, subalugando a Quinta de Monserrate, a William Beckford, que modifica as torres do Palácio de Monserrate e os seus jardins, nos quais, entre outras coisas, mandou construir uma cascata.

 
Beckford acaba por deixar o Palácio de Monserrate, bem como Portugal e, a quinta, fica ao abandono e num estado de quase degradação, como constata Lorde Byron, em 1809, no seu Childe Harold's Pilgrimage.

Em 1841,um comerciante de têxteis inglês, milionário, chamado Francis Cook, conhece a Quinta de Monserrate, encanta-se com a propriedade e compra-a.

Sir Francis Cook, decide então reconstruir o Palácio de Monserrate, bem como realizar a renovação de todo o parque envolvente, contando com a ajuda de um botânico, William Nevill, um jardineiro, Francis Burt e um paisagista romântico, William Stockdale. Com esta equipa, Sir Francis Cook consegue reformular todo o jardim do Parque de Monserrate, criando para tal vários recantos com diferentes espécies vegetais de regiões específicas do planeta, utilizando no seu todo, mais de duas mil espécies de plantas, conseguindo criar um maravilhoso jardim botânico, ímpar nas suas características.

  
Criaram cenários invulgares que se sucedem ao longo de caminhos sinuosos, por entre ruínas, recantos, construções, cascatas e lagos. 
 
   
   

 O Palácio de Monserrate só iria conhecer progressos, em meados de 1858, com o arquitecto James Knowles Jr., que reformula o estilo neogótico do palácio, tentando dar-lhe um quimérico aspecto indo-persa, para fazer lembrar os contos do Califa Vathek, de William Beckford. Chegou ao ponto de criar, junto à cascata, o Arco de Vathek.


 
Sir Francis Cook, tendo em vista uma reconstituição ultra-romântica, utilizou a Capela de Nossa Senhora de Monserrate em ruínas, para através da vegetação recriar um cenário de fantasia. Assim colocou dentro dela um sarcófago etrusco, que formava um trio com outros dois que se encontravam no Parque de Monserrate.
 


James Knowles Jr. aproveita algumas partes do palácio em estilo gótico e depois reformula a construção,usando um conjunto de elementos que vai buscar a diversos estilos que combina num todo, com um toque exótico, mas coerente.


   

 

 
 

 

 

 
 
 


Francis Cook, pela sua obra, foi feito Visconde de Monserrate pelo Rei Dom Luís, em 1870, mas os seus sucessores abandonam Sintra.
 

Anos mais tarde, o Estado português acaba por comprar o conjunto do Parque e Palácio de Monserrate, que foi classificado como Imóvel de Interesse Público, em 1978.