sexta-feira, 23 de março de 2012

Palácio e Parque de Monserrate


A serra de Sintra sempre empolgou as almas românticas, Garrett, em 1825, escrevia:
"...Oh grutas frias / oh gemedouras fontes, oh suspiros / De namoradas selvas, brandas veigas, / verdes outeiros, gigantescas serras."
O palácio Nacional da Pena não é o único palácio romântico de Sintra…

A Lenda de Monserrate, diz que em tempos, um cavaleiro cristão foi morto pelo alcaide mouro de Sintra num duelo. Quando D. Afonso Henriques conquistou Sintra, mandou erigir uma capela, no local do túmulo do cavaleiro.

Em 1540, a capela que estava em ruínas, foi mandada reconstruir em honra de Nossa Senhora de Monserrate, que acabou por dar o nome à quinta, onde se encontrava.

A Quinta de Monserrate, em 1790, foi alugada ao inglês Gerard De Visme, um abastado importador de madeira do Brasil. Tendo-se apaixonado por Sintra, decide construir naquela Quinta, um palácio em estilo neogótico, como ainda reconstruir a capela, que depois do terramoto de 1755, se encontrava em ruínas.

Em 1794, De Visme parte para Inglaterra, subalugando a Quinta de Monserrate, a William Beckford, que modifica as torres do Palácio de Monserrate e os seus jardins, nos quais, entre outras coisas, mandou construir uma cascata.

 
Beckford acaba por deixar o Palácio de Monserrate, bem como Portugal e, a quinta, fica ao abandono e num estado de quase degradação, como constata Lorde Byron, em 1809, no seu Childe Harold's Pilgrimage.

Em 1841,um comerciante de têxteis inglês, milionário, chamado Francis Cook, conhece a Quinta de Monserrate, encanta-se com a propriedade e compra-a.

Sir Francis Cook, decide então reconstruir o Palácio de Monserrate, bem como realizar a renovação de todo o parque envolvente, contando com a ajuda de um botânico, William Nevill, um jardineiro, Francis Burt e um paisagista romântico, William Stockdale. Com esta equipa, Sir Francis Cook consegue reformular todo o jardim do Parque de Monserrate, criando para tal vários recantos com diferentes espécies vegetais de regiões específicas do planeta, utilizando no seu todo, mais de duas mil espécies de plantas, conseguindo criar um maravilhoso jardim botânico, ímpar nas suas características.

  
Criaram cenários invulgares que se sucedem ao longo de caminhos sinuosos, por entre ruínas, recantos, construções, cascatas e lagos. 
 
   
   

 O Palácio de Monserrate só iria conhecer progressos, em meados de 1858, com o arquitecto James Knowles Jr., que reformula o estilo neogótico do palácio, tentando dar-lhe um quimérico aspecto indo-persa, para fazer lembrar os contos do Califa Vathek, de William Beckford. Chegou ao ponto de criar, junto à cascata, o Arco de Vathek.


 
Sir Francis Cook, tendo em vista uma reconstituição ultra-romântica, utilizou a Capela de Nossa Senhora de Monserrate em ruínas, para através da vegetação recriar um cenário de fantasia. Assim colocou dentro dela um sarcófago etrusco, que formava um trio com outros dois que se encontravam no Parque de Monserrate.
 


James Knowles Jr. aproveita algumas partes do palácio em estilo gótico e depois reformula a construção,usando um conjunto de elementos que vai buscar a diversos estilos que combina num todo, com um toque exótico, mas coerente.


   

 

 
 

 

 

 
 
 


Francis Cook, pela sua obra, foi feito Visconde de Monserrate pelo Rei Dom Luís, em 1870, mas os seus sucessores abandonam Sintra.
 

Anos mais tarde, o Estado português acaba por comprar o conjunto do Parque e Palácio de Monserrate, que foi classificado como Imóvel de Interesse Público, em 1978.
 


segunda-feira, 19 de março de 2012

Arquitectura Romântica Portuguesa – Palácio Nacional da Pena




O Romantismo utilizou inovações técnicas, mas numa verdadeira fuga ao real, elege revivalismos e orientalismos, como se verifica nas construções românticas, um pouco por toda a Europa.
Os gostos voltam-se para o passado, valorizando, essencialmente, a Idade Média e os estilos artísticos que a caracterizam, utilizando-os como reflexo dos nacionalismos emergentes – Portugal adopta o Neomanuelino como estilo nacional.




Na arquitectura esta tendência desenvolve-se com o impulso de dado por D. Fernando II, marido de D. Maria II, ao iniciar a construção do Palácio Nacional da Pena.


Palácio Nacional da Pena


É o mais admirável exemplar de arquitectura portuguesa do Romantismo.
Em 1839, o rei consorte D. Fernando II de Saxe Coburgo-Gotha (1816-1885), adquiriu as ruínas do Mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena e sonhou com a sua adaptação a palacete, conservando os claustros,a capela quinhentista e alguns anexos.



 




O projecto foi encomendado ao germânico, engenheiro de minas e amante de arquitectura, barão de Eschwege.





 
Segundo a «Enciclopédia dos Lugares Mágicos de Portugal» («D. Fernando certamente viu em Eschwege, para além de uma experiência vivida e uma proximidade linguística que muito ajudava a resolver os problemas do projecto, a flexibilidade e a adaptabilidade necessárias para ceder às idiossincrasias do príncipe, que queria ali fazer o «seu» palácio, quase que partilhando a autoria.


 


Por outro lado, a cultura do barão de Eschwege, que privara com von Humboldt e Goethe quando das suas viagens pela Europa e que conhecia as dissertações de Schlegel quanto à sublimidade do gótico e da sua suposta relação com a natureza, dir-lhe-iam mais do que a de um prático (embora 
competente) arquitecto português.»


O local escolhido, pela sua Natureza, é romântico por excelência, pelo que tem de acidental, assimétrico, incompleto e imperfeito e ainda naquilo que representa de espontaneidade em relação à ordem.


 


Extremamente fantasiosa, a arquitectura da Pena utiliza "motivos" neomouriscos, indianos, neorenascentistas, neogóticos e neomanuelinos, tudo imbuído do espírito romântico da época.
O rei interveio de forma determinante na construção do palácio, ficando a dever-se ao seu ecléctico e excêntrico temperamento muitos dos detalhes decorativos e simbólicos.






 



O rei, que também era pintor e cantor foi o responsável, pelo desenho, que fez reproduzir, na fachada norte do Palácio, de uma imitação da janela Capítulo do Convento de Cristo em Tomar.






A mistura de estilos que apresenta é intencional, pois a mentalidade romântica do século XIX tinha uma particular atracção pelo exotismo e ecletismo.






 


Todas as torres, excepto a do Relógio têm cúpulas. Os motivos de inspiração foram colhidos em fontes mouriscas, mudéjares e em quase todas as obras manuelinas: Torre de Belém, Jerónimos, Convento de Cristo e Palácio da Vila.




Representa uma das melhores expressões do Romantismo arquitectónico do século XIX no mundo, sendo o primeiro palácio nesse estilo na Europa, erguido cerca de 30 anos antes do carismático Castelo de Neuschwanstein, na Baviera.








Em torno do Palácio Nacional da Pena, ocupando uma área de cerca de duzentos hectares, o Parque da Pena é o resultado das tendências intelectuais e artísticas da época do Romantismo.
 
Todo o seu traçado e plantio estão impregnados pela imaginação: recantos de verdura, trechos de paisagem que a par e passo se vislumbram, árvores em manchas contrastantes, lagos, locais de descanso, caminhos ondulantes, afloramentos de enormes rochedos e fontes.

O resultado do conjunto foi descrito por Richard Strauss, quando da sua visita a Sintra: ”Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto e nunca vi nada que valha a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor – e, lá no alto, está o castelo do Santo Graal”.